Durante os dias 29, 30 e 31 de Outubro, o Instituto Elo Amigo realizou um Intercâmbio Interestadual do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) MDS, com a participação de 27 agricultores/as mais 07 pessoas da equipe técnica, financeira e administrativa do Instituto Elo Amigo. O Intercâmbio aconteceu em Juazeiro-BA e teve como objetivo a troca de experiências entre agricultores/as que são beneficiários/as do P1+2 nos municípios de Jucás, Quixelô, Acopiara e Cedro.
Durante o Intercâmbio foi visitada uma Cisterna-Calçadão e a Barragem de Sobradinho.
Na Cisterna-Calçadão os agricultores tiveram a oportunidade de conhecer a tecnologia e a produção da propriedade. Também conheceram a diversidade das raças de caprinos e ovinos de cada região.
Na Barragem, eles conheceram a grandiosidade da estrutura tanto interna quanto externa e com o apoio de um técnico, conheceram grande parte da barragem que hoje é responsável por 25% da energia de todo o Nordeste.
No final tiramos a conclusão que os problemas consequentes da estiagem são muito semelhantes em todo o semiárido Brasileiro e as tecnologias de armazenamento de água cumprem seu papel em qualquer região onde ela esteja.
Comunidades de Jucás se reúnem em momento solene para juntos realizarem a limpeza e a pintura das cisternas do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC). Também forma limpas e pintadas as cisternas do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA). Só esse ano foi entregue as famílias, 25 Cisternas-Calçadão e 11 Cisternas-Enxurrada, todas com capacidade para armazenar até 52 mil litros de água para produção de alimentos.
No inicio todos se reuniram na associação comunitária de uma das comunidades, onde juntos fizeram o chamado “mutirão da limpeza”, limpando e pintando as cisternas dos moradores que ali residem e para encerrar o momento, todos participaram de um almoço coletivo trazendo como aprendizado que unidos a gente se torna mais forte.
A região está em disputa pelo agronegócio, que pretende expulsar famílias de suas terras para implantação de um perímetro irrigado
Representantes de comunidades tradicionais, agricultores/as, pesquisadores e lideranças dos movimentos sociais do campo, organizações e redes da sociedade civil do Nordeste e de outras regiões do Brasil participarão da Caravana Agroecológica e Cultural da Chapada do Apodi, entre os dias 23 e 26 de outubro.
O objetivo é promover o intercambio de experiências da agricultura familiar de base agroecológica da Chapada do Apodi, que abrange os estados do Rio Grande do Norte e Ceará. A Caravana é também um momento de preparação ao III Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), previsto para acontecer em maio de 2014, na Bahia.
A atividade também denunciará a ameaça que as famílias vêm sofrendo com o avanço do agronegócio na região. O projeto Perímetro Irrigado da Chapada do Apodi do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), chamado pela população de “Projeto da Morte”, irá desapropriar mais de 13 mil hectares de terras, onde vivem e produzem 800 famílias, para que cinco empresas produzam frutas para exportação.
“A Caravana de Apodi será um momento muito rico para pautar na sociedade a importância da agroecologia e para dizer que o mundo que queremos é o mundo onde homens e mulheres sejam livres para viver e plantar no campo respeitando a natureza e os valores humanos”, pontua a militante da Marcha Mundial das Mulheres (MMM), que compõe a organização do encontro, Conceição Dantas.
A caravana será dividida em quatro rotas, que serão realizadas nos dias 24 e 25, envolvendo os municípios de Açu, Olho D’Água do Borges, Campo Grande, Tibau, Grossos e Mossoró, no Rio Grande do Norte, a experiência da Rede Xique-Xique e o município de Limoeiro do Norte, no Ceará. Nestas duas últimas, os participantes terão a oportunidade de ver o impacto causado pelo perímetro irrigado Jaguaribe-Apodi do DNOCS no meio ambiente e na vida das comunidades desapropriadas de suas terras. Entre eles, a contaminação das águas e dos trabalhadores pelo alto índice de agrotóxicos usados nas lavouras.
No dia 26 de outubro, um ato público, com estimativa de 2.000 pessoas, sairá da feira livre da cidade de Apodi em solidariedade às famílias que estão acampadas na Chapada em resistência ao projeto do DNOCS. “Para nós, essa caravana vem contribuir muito para troca de conhecimentos sobre a agricultura familiar e também dar força para nossas lutas, pelas nossas terras e pelo direito de viver e plantar nelas”, diz Francisca Antônia de Lima, agricultora do P.A Laje do Meio, um dos locais que será visitado.
A Caravana é uma realização da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Apodi, Comissão Pastoral da Terra (CPT), Marcha Mundial das Mulheres (MMM), Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Central Única dos Trabalhadores (CUT), entre outras redes e organizações do Ceará e Rio Grande do Norte.
ENA - O III Encontro Nacional de Agroecologia será um momento de pautar a agroecologia como alternativa de vida e produção respeitando a terra e as pessoas que nela vivem e de visibilizar experiências desenvolvidas por comunidades, associações e fóruns de todo o Brasil. Em preparação ao ENA estão acontecendo diversas caravanas em todo o país, também como momentos de formação.
Programação
23/10
19h – “Terra” – Cia Escarcéu de Teatro
19:30h – Mesa de Abertura no Centro de Treinamento Seminário Santa Teresinha (Mossoró)
24/10
7h – Rota Padre Pedro Neefs: Mossoró – Ipanguaçu
Rota Ronaldo Valença: Mossoró – Olho d’água dos Borges – Campo Grande
Rota Romana Barros Mossoró – Tibau – Grossos – Mossoró (Rede Xique-Xique)
Rota Zé Maria do Tomé: Mossoró – Limoeiro do Norte – Baixo Jaguaribe.
19h – Noite Cultural
25/10
7h – Rota Padre Pedro Neefs: Apodi – Carpina – Baixa Fechada – Barragem de Santa Cruz
Rota Ronaldo Valença: Apodi – PA Milagres – PA Lage do Meio
Rota Romana Barros: Apodi – PA Moacir Lucena – Agrovila Palmares – Lajedo de Soledade.
Rota Zé Maria do Tomé: Limoeiro do Norte – Caatingueirinha – Oziel Alves
Rota Margarida Alves: Apodi – P.A Sítio do Góis – PA Tabuleiro Grande
16h – Encontro das Rotas no Acampamento Edivan Pinto (Apodi)
19h – Feira Agroecológica e Cultural
26/10
8h – Ato de solidariedade à Chapada do Apodi
Avaliação da Caravana e Mística de encerramento– Auditório do STTR
Nos dias 25 a 27 de setembro, aconteceu na Serra da Ibiapada, o II Encontro de Agricultores/as Experimentadores/as do estado do Ceará. O tema do encontro foi: guardiões da biodiversidade cultivando vida e resistência no semiárido. O encontro foi realizado pelo Fórum Cearense pela Vida no Semiárido (FCVSA) ) e pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA Brasil), onde contou com a participação de agricultores e agricultoras de todo o Estado do Ceará.
No encontro foram feitos debates, visitas de campo, intercâmbios e reuniões de planejamento. Um dos intercâmbios mais comentados foi o da visita a Aldeia indígena gameleira, onde fomos acompanhados por Luiz Marcos, cacique da aldeia.
Todos os participantes voltaram para casa com outra visão sobre a importância da preservação da nossa cultura e das alternativas viáveis de convivência com o semiárido.
“Gosto do cheiro do mato
Do sertão a onde eu moro
Mesmo estando na cidade
A minha terra eu adoro
E eu estando longe dela
Se sentir saudade eu choro
Por isso é que eu imploro
Não me deixe aqui ficar
Mesmo eu ganhando dinheiro
Eu pretendo regressar
A terra que eu nasci
Não há de me abandonar”
(Poema de Davi Calisto Neto)
E é como recita o poeta dos versos acima que Dona Terezinha, 66 anos, realizou há pouco mais de uma década o sonho de ter uma vida simples e mais tranqüila no campo. Nascida em Campina Grande - PB, Dona Terezinha foi morar em São Paulo em 1977, onde ficou lá por 25 anos trabalhando e perto de alguns de seus familiares. Com isso em 2002 ao fazer uma visita a Quixelô - CE, o coração falou mais alto e fez com que ela não pensasse duas vezes em trocar a agitada cidade de São Paulo pela pacata e modesta vida na comunidade Chapada a cinco quilometros de Quixelô-CE, realizando assim seu grande sonho de um dia morar no campo.
Dona Terezinha cita que ao chegar à propriedade não encontrou muita coisa por ali, apenas um pé de pitomba e a antiga casa, que hoje fica no mesmo terreno, porém ao lado da sua atual residência, servindo como boas lembranças do passado, ou seja, um museu para Dona Terezinha e para quem chega ao local.
Na casa antiga observamos os antigos fogões usados por ela em um passado não tão distante, sendo um a lenha e outro a carvão. O antigo moedor de milho ainda esbanja destaque na sala ao lado do pequeno armazenamento de sementes em garrafas pet. Pode-se notar também coisas exóticas, como a casa não mais habitada pelo joão de barro, ave nativa da região que em toda estação visitava Dona Terezinha.
A falta de água ainda é um ponto crucial para Dona Terezinha, mas com muita perseverança e criatividade ela armazena água das chuvas através de uma bica que colhe a água do telhado que cai em uma cisterna quadrada de tijolos que ela mandou construir, semelhante à cisterna de placa do P1MC (Programa Um Milhão de Cisternas), porém, com menos capacidade de armazenamento. Além disso também é armazenada água da chuva em pequenas dornas e baldes, a fim de servir aos animais da propriedade e aos animais nativos que a visitam.
O amor pelos seres vivos é algo notório a todos que a conhecem ou passam por ali. Um grande comedouro para pássaros tem seu endereço fixo há anos no centro do quintal, criando um ponto de encontro certo e com horário marcado pelas aves da região, todos os dias pela manhã. Os cachorros de Dona Terezinha também são muito comentados na comunidade pela beleza e saúde que eles esbanjam e não podemos esquecer é claro, do caçula e tão querido gato de estimação de Dona Terezinha, o Bento, que já deixou bem claro para os cachorros que ele é quem manda dentro da residência.
Outro ponto de destaque na propriedade de Dona Terezinha é a diversidade de plantas nativas, frutíferas e a grande variedade de flores que cercam a propriedade fazendo com que tudo isso junto formem uma grande experiência de vida e superação e que reflete como exemplo para todos que a visitam. Isso demonstra claramente que é possível a convivência no Semiárido, mesmo em regiões menos propícias a água das chuvas.
Dona Terezinha não se casou e nem teve filhos, mas esbanja uma felicidade incontestável para quem a conhece. Ela ama seus vizinhos e vive em harmonia com a natureza e com os animais e considera-se uma pessoa privilegiada por Deus.
Seu quintal é como um santuário preservado e com uma diversificação de espécies que se respeitam e cumprem o ciclo natural da vida.
“Não reclamo da vida na cidade, lá eu iniciei tudo e consegui juntar um dinheiro pra ter uma velhice mas tranqüila”, diz Dona Terezinha”.
Na região centro sul do Ceará, mais precisamente a 16 quilômetros de Várzea Alegre, vive um povo simples e hospitaleiro, que hoje conta uma nova história de vida que foi reescrita a partir de 2009 com a chegada das cisternas Calçadão.
Esse povo unido forma a conhecida comunidade Riacho do Meio, onde habitam cerca de 50 famílias, sendo que 10 dessas famílias foram beneficiadas com 10 cisternas-calçadão do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA). A cisterna-calçadão é uma tecnologia que capta água da chuva através de uma calçada de 200 metros quadrados e armazena em um reservatório com capacidade de até 52 mil litros de água para produção de alimentos e para criação de pequenos animais. Todas as famílias vivem da agricultura orgânica e da pecuária e a comunidade já é alvo de oficinas e intercâmbios sobre agroecologia familiar.
Um dos beneficiados do programa é seu Emídio Ferreira Lima, 69 anos, casado com Francisca Ferreira Lima e pai de 6 filhos. Na propriedade só vivem seu Emídio e Dona Francisca. Os filhos moram em Várzea Alegre, mas sempre estão visitando os pais.
Seu Francisco conta que nem sempre foi tudo flores como é hoje. Há alguns anos atrás antes das cisternas, nada era cultivado por ali, pois a água mal dava para o próprio uso.
Como os efeitos da estiagem são muito intensos na região, tudo que se plantava morria, assim os moradores aos poucos foram migrando para outras regiões em busca de melhores condições de vida. Os jovens precisaram largar a agricultura e se adaptar à vida mais urbana. Hoje é tudo diferente. Todos tiveram a oportunidade de começar uma nova etapa em suas vidas, agora mais justa e com mais dignidade e assim registrar a certeza que sem água a vida não prospera.
Seu Emídio cultiva o tomate, o coentro, a cebolinha, além de frutas como laranja, pinha, mamão, graviola, banana, abacaxi e muitos outros. Ele também cria galinhas de engorda e de postura. Toda semana cerca de 20 aves são abatidas e vendidas no comercio da cidade, alem dos ovos que também são muito procurados.
As verduras são cultivadas em canteiros econômicos e em canteiros suspensos. “ Aprendi a fazer esses canteiros com os técnicos do Elo Amigo. Antes eu fazia tudo errado. Hoje a gente sabe a maneira certa e consegue conviver com o nosso clima quente e seco. Agora minha família tem uma alimentação saudável sem nenhum tipo de veneno, pois tudo que a gente compra no mercado tem agrotóxico”, conta Seu Emídio.
Seu Emídio também aprendeu a reutilizar a água. Ele aproveita a água utilizada na cozinha e na lavanderia para aguar as plantas. Ele fez um sistema de encanação que leva a água reutilizada até as mudas e plantas em etapa de crescimento. Nos tempos de chuva seu Emídio também vende o excedente, gerando assim uma renda extra para a sua família. “ Tem vez que eu pego um cacho de banana desse e vendo, aí já pago uma conta de luz”.
Hoje a comunidade Riacho do Meio é sempre uma indicação para encontros, oficinas e até intercâmbios , onde são visitados os quintais produtivos das famílias, mostrando aos visitantes e futuros beneficiados a idéia da agroecologia como uma alternativa viável e que o Semiárido é um lugar de potencialidade e de possibilidades.
Na comunidade Caldeirão dos Rufinos, 06 quilômetros de Quixelô – CE, Mais 03 famílias são beneficiadas com o Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA). Estão
sendo construídas duas Cisternas Enxurrada e uma Cisterna Calçadão.
Adriano, 22 anos, casado e com 1 filho é um dos beneficiados do Programa. Ele conta que com a Cisterna ele espera produzir tomate, beterraba, cenoura, alface, coentro e cebolinha. Em seu quintal ele já tem um pequeno canteiro de verduras, mas devido a pouca água ele nunca pode aumentar a sua produção.
“agora vou plantar de tudo, minha família vai ter uma alimentação saudável e ainda posso vender o que sobrar”, diz Adriano.