A 18 quilômetros de Jucás – CE, em uma propriedade um pouco afastada, mas que de certa forma pertence à comunidade Riacho do Gado, mora um inusitado e conhecido agricultor. Seu nome é José Lucas Filho, mais conhecido como Zé Lucas, 69 anos, casado com Francisca Alves Bezerra Lucas, 55 anos e pai de quatro filhos. Logo ao chegar à propriedade de Zé Lucas, nota-se uma organização um pouco além do que costumamos ver em outros locais. Lá tudo é muito arrumado e muito bem construído. Os dotes de pedreiro adquiridos por Zé Lucas quando mais jovem fizeram com que ele ganhasse certa habilidade no uso das ferramentas da construção civil e da marcenaria. Logo na entrada da propriedade uma simpática porteira dá um ar aconchegante de sítio, daqueles que vimos nas histórias dos livros infantis e logo em frente uma casinha modesta, mas confortável na medida do possível, embeleza o ambiente. Ao lado da casa fica o curral dos bois e ao fundo, um verdadeiro santuário de galinhas, que são organizadas de uma maneira para que tudo se mantenha em harmonia entre elas e o ecossistema. Tem as casinhas das galinhas de postura, das galinhas que estão chocando ovos, o poleiro dos pintinhos recém-nascidos, que é todo cercado de tela inclusive no teto para impedir os ataques dos gaviões, que são muito frequentes na região, o poleiro dos pintos maiores e o restante do quintal para as galinhas e os frangos andarem e ciscarem o dia todo, lembrando que até o quintal das galinhas adultas é cercado de uma cerca de madeira bem justa, para impedir a raposa de capturar os frangos adultos. Zé Lucas explica que dessa forma as galinhas ficam protegidas de doenças e de invasores locais.
Logo à frente da casa, se avista o grande xodó de Zé Lucas: a cisterna-calçadão, que é uma tecnologia de convivência com o Semiárido do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), com capacidade para armazenar até 52.000 litros de água para a produção de alimentos. Os cuidados que ele tem com a tecnologia é algo que dá gosto de se ver. A Cisterna é toda cercada com tela de arame, que também foi benefício do Programa e os canteiros parecem uma obra de arte de tão bem feitos que são. Nos canteiros, Zé Lucas cultiva a alface, a cebolinha e o coentro. “Só estou esperando a cisterna encher para plantar de tudo nos canteiros, da verdura aos legumes”, diz Zé Lucas.
Ao lado do cercado da Cisterna, em outra área da propriedade, Zé Lucas também planta o milho, a macaxeira e o mamão. Ele também cultiva frutas como pinha, goiaba, graviola, abacaxi, caju, limão e banana.
É tudo muito bonito na propriedade. Uma beleza que não tem tamanho, porém, Zé Lucas nos conta que nem sempre as coisas foram assim.
Ele nos relata que vem de origem muito humilde, passou necessidade e tinha muita vontade de um dia ter uma vida digna e poder dar uma qualidade de vida melhor a sua família. Zé Lucas conta que quando jovem, ele arrendava as terras dos fazendeiros para poder plantar. Mas isso não dava muito resultado, pois ele nunca construía nada que pudesse chamar de seu. Assim ele resolveu passar uns tempos na cidade trabalhando de pedreiro, onde conseguiu juntar um dinheirinho para então comprar seu primeiro pedaço de chão, que é exatamente onde ele vive hoje com sua família. No início era só um pedacinho de terra e uma casinha bem humilde, mas logo Zé Lucas foi trabalhando duro e crescendo sua produção e em pouco tempo pode terminar de construir sua casa.
Depois disso as coisas foram só melhorando. Hoje Zé Lucas tem dois filhos morando em São Paulo e dois morando com ele e com sua esposa na propriedade. Os dois filhos que estão morando em São Paulo já estão cursando nível superior e a filha que mora com ele também já esta quase concluindo o curso de Serviço Social.
Tudo anda muito bem e Zé Lucas afirma que é muito feliz e realizado. Foi muito sofrimento no início, mas hoje eles seguem a vida honestamente e mostram mais uma vez que o sertanejo é um povo forte e só precisa de um apoio.
“Não tenho estudo, mais me formei na faculdade mais difícil que existe; a faculdade da vida!”, finaliza Zé Lucas.