Desde o inicio dos tempos a curiosidade do homem fez com que ele realizasse descobertas, superasse dificuldades e aprimorasse os seus conhecimentos e foi desta mesma forma que seu Edivaldo, mas conhecido como seu Vaval, morador do sitio Retiro a aproximadamente 18 km de Iguatu - CE, percebeu através de programas de televisão e livros de ecologia que eles não estavam fazendo as coisas da maneira mais inteligente pois já existiam outras formas alternativas para se cultivar o solo e para aproveitar ao Maximo dos benefícios que a terra proporciona ao homem.
Seu Vaval conta que o manejo de preparação do solo era feito com a brocagem e com a queima da vegetação que era roçada, a fim de aguardar a chegada da chuva. Ele lembra que nunca se deu por satisfeito em ter que queimar a vegetação para plantar. Também tinha grande convicção que mesmo não conhecendo outra forma de manejo de solo, sentia em seu coração que aquela maneira não era a forma adequada e ecologicamente correta. Foi então que visitando comunidades de amigos em outras cidades percebeu que existia propriedades que mesmo neste período de estiagem se mantiam úmidas e produtivas. Ele observou também que essas regiões praticavam uma agricultura de uma forma diferente da que a sua cultura o ensinou, pois no lugar de limpar tudo o que era roçado, era deixado todo o roço no próprio local, como se estivessem cobrindo o solo. Aquilo ficou por dias martelando na cabeça de seu Vaval e ele chegou à conclusão que aquela era a solução que ele tantobuscava e resolveu experimentar aquela nova alternativa em sua plantação de cajus.
Alguns meses depois, seu Vaval foi percebendo que o solo parecia mais úmido e mais produtivo, pois se antes ele já produzia muitos cajus, agora ele não estava mais sabendo o que fazer com tantas frutas.

A produção praticamente duplicou e Foi assistindo a um programa de conteúdo rural na televisão, que ele viu uma matéria que falava sobre fabricação de polpas de frutas como uma fonte de renda sustentável. Naquele mesmo instante seu Vaval falou com ele mesmo: é isso que eu vou fazer. Porem, logo após, seu Vaval repensou o fato e perguntou a si próprio novamente: mas como e por onde eu começo? E foi em busca destas repostas que seu Vaval encontrou e conheceu o instituto elo amigo. Ele explicou toda a sua historia, o que ele produzia em seu sitio, quais as suas dificuldades e quais eram os seus projetos para o futuro.

Alem da plantação de cajus seu Vaval também cultiva abelhas, mas a produção era pouca e ele não conseguia manter as abelhas no local por muito tempo e foi através do projeto raízes, executado pelo instituto elo amigo que seu Vaval encontrou uma solução adequada para trabalhar corretamente a apicultura em sua região e hoje ele é considerado referencia na produção de mel e doces caseiros em Iguatu e nos municípios vizinhos.
Seu Vaval agora queria ir em busca do seu sonhado projeto de produção de polpas de frutas e precisou apenas de um apoio do instituto Elo Amigo para logo se tornar o maior produtor de polpa de frutas das redondezas. O Instituto Elo Amigo capacitou e realizou vários intercâmbios com seu Vaval e com outros agricultores da comunidade Retiro mostrando novas alternativas de produção aliados a convivência com o semiárido. Seu Vaval tem cerca de oitocentos cajueiros em produção e hoje precisa comprar frutas dos outros agricultores para suportar a sua demanda de mercado. Os três grandes freezers de congelamento e armazenamento de seu Vaval já não são o suficiente para estocar toda a produção. Ele também já está prospectando a compra de um automóvel para fazer a distribuição da mercadoria aos seu clientes com mais rapidez e qualidade. Seu Vaval cita que só não produz uma quantidade maior de polpas de frutas pelo simples fato de não ter água suficiente para a o uso produtivo pois a comunidade ainda não foi beneficiada com os projetos do P1MC (programa um milhão de cisternas) e do P1+2 (programa uma terra e duas águas) realizado pela Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA).

Mas como seu Vaval não é homem de esperar, ele mesmo resolveu construiu a sua pequena cisterna de armazenamento de água das chuvas semelhante a do P1MC, porem com menos capacidade de armaze namento e com uma estrutura inferior. No inicio seu Vaval foi muito criticado pelos outros agricultores da comunidade por estar praticando esse novo modo sustentável de agricultura. Era muito estranho para a cultura daquele povo não queimar e não brocar a terra antes de plantar e muito menos deixar a vegetação roçada ali mesmo no solo. Mas como em pouco tempo a propriedade de seu Vaval foi se diferenciando das demais com uma aparência mais verde e mais produtiva eles começaram a perceber que seu Vaval estava certo e aos poucos todos foram aderindo a esse novo modelo de produção agrícola.

 

Hoje a comunidade Sitio Retiro é cercada de agroflorestas e Todos praticam a agroecologia. A comunidade começou a tomar novos rumos e apresentar uma nova perspectiva para os moradores daquele lugar. Seu Vaval ainda é o único produtor de polpa de frutas, mas as outras famílias já produzem milho, feijão, manga, seriguela, entre outros. A criação de caprinos também é forte e a cada dia os pequenos rebanhos de gado se potencializam na comunidade. Seu Vaval afirma que a horticultura só não obteve sucesso por não existir água próximo a plantação. Ainda há muito a ser feito, mas seu Vaval acredita que a comunidade ainda formará uma cooperativa e assim os produtos produzidos ali, terão mais valor comercial e a comunidade ficara mais unida.

 

“Agente não sabe usar a terra que tem, se deus deu ela pra gente desse jeito é porque tem como viver nela. O homem precisa descobrir maneiras de conviver com a realidade, saber respeitar o meio ambiente e e não sair queimando tudo”, finaliza seu vaval.