A cada dia, as pessoas percebem que aquela antiga ilusão de tentar a vida na grande São Paulo não é, e nunca foi a resposta para fugir das dificuldades. Essa tentativa de migrar para as grandes cidades já foi uma realidade dos quatro cantos do mundo, mas foi na zona rural que essa migração ganhou proporções e deixou uma triste história para as famílias que passaram por essa etapa da vida.
Cícero de Souza Ferreira de 37 anos é mais um protagonista dessa antiga realidade de êxodo rural. Cícero mora na comunidade Caiana a seis quilômetros de Cedro-CE com sua esposa Maria Vilanir Lima Ferreira e com os dois filhos do casal. Eles chegaram à comunidade em 1994, mas com pouca água e com medo dos efeitos da estiagem, Cícero acreditou que não havia alternativa para manter a sua família e em julho de 2011 resolveu migrar para São Paulo em busca de emprego e de uma vida melhor para sua família. Ele nos conta que vendeu tudo que tinha e sem muito pensar, partiu com sua família para Campinas-SP, para trabalhar como ajudante de pedreiro com um parente que já residia por lá. Ele relata que até dava para conseguir o básico para o sustento da família, mas para isso era preciso morar longe do centro da cidade, pois o aluguel e o custo de vida nas periferias era bem mais barato, mas em consequência, viviam eles no meio da violência que assola quase todo perímetro urbano do nosso país.
Cícero conta que não suportou aquela rotina por muito tempo e tinha saudades da tranquila vida no campo. “Minha família vivia em uma prisão, quando anoitecia então todo mundo tinha que se trancar dentro de casa, vivia todo mundo assustado”.
Assim, sem olhar pra trás, em março de 2013 Cícero e sua família retornaram para sua terra natal em Cedro-CE. Com o pouco dinheiro que Cícero conseguiu por lá, ele comprou os móveis da casa e um terreninho próximo à residência. Iniciou a criação de galinhas de postura e começou a comercializar os ovos na região. Tudo caminhava bem e o sustento da família estava garantido com o comércio dos ovos, mas novamente, devido à pouca quantidade de água, o problema de Cícero se repetia e ele não conseguia ampliar sua criação, pois suas fontes de armazenamento de água eram a cisterna de placa do P1MC (Programa Um Milhão de Cisternas) de 16 mil litros de água para o consumo e um açude próximo que nunca segurava água o ano todo. “Nunca dava para acreditar no açude, pois ele secava no meio do ano e às vezes passava até anos sem encher”.
Mesmo com toda essa dificuldade, Cícero dava um jeitinho aqui e outro ali e conseguia além de manter suas poucas galinhas, plantar algumas fruteiras em seu quintal. E foi com todo esse esforço que ele e sua esposa tiveram a ideia de abrir um pequeno comércio de frutas na comunidade. Lá ele vende o mamão, a carambola, o feijão e a banana.
O grande sonho de Cícero é encher seu quintal com canteiros de verduras e legumes, só que esse sonho sempre foi frustrado quando ele percebia não ter água suficiente para a produção de alimentos. A chegada da cisterna-enxurrada – capaz de armazenar até 52 mil litros de água para produção de alimentos e criação de pequenos animais – trouxe tanta alegria a Cícero, que antes mesmo dela estar pronta, ele já planeja onde ficarão os canteiros e tudo que ele vai cultivar em seu quintal para o consumo de sua família e para comercializar em seu pequeno comercio de frutas.
“Vou plantar coentro, alface, cebolinha, beterraba, pimentão, cenoura e vou encher o quintal de maracujá” ,diz.
Cícero e outros agricultores da comunidade que também estão envolvidos no Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) participaram de intercâmbios e ainda foram capacitados com cursos de gestão de água para produção de alimentos e de sistema simplificado de irrigação. “Aprendi muito com esses cursos, antes eu enchia o regador e saía molhando tudo até a terra encharcar sem saber que eu estava era esperdiçando água”.
É notório o entusiasmo de Cícero com a chegada da cisterna. Com a força de vontade que ele esbanja, com o auxílio da tecnologia e com a capacitação recebida pelos cursos é questão de tempo para Cícero aumentar sua criação de galinhas e cultivar seus canteiros, garantindo assim a soberania alimentar e nutricional de sua família.
“Nunca tive uma experiência dessas em minha vida. Agora tudo vai ser mais fácil para a gente”, finaliza Cícero.