A 23 quilômetros de Acopiara-CE, vivem algumas famílias que contam um passado de muita luta e resistência pela pouca água para o consumo e para a criação de animais, que é a principal atividade e fonte de renda das pessoas que moram ali. Essa comunidade se chama Sítio Alto da Serra.
Um desses moradores é Antônio Cavalcante de Oliveira, 40 anos, mais conhecido como Valmir, casado com Francisca Diniz Souza, que também é mais conhecida pelo seu apelido, Marciene. Valmir conta que a maioria das pessoas da comunidade tem o nome de batismo diferente dos nomes que são popularmente conhecidos, pois isso já faz parte da cultura daquela região. Valmir também é bastante elogiado por todos, devido a sua organização, qualidade dos animais e pela sabedoria que possui quando o assunto em questão é sustentabilidade, agroecologia e convivência com o Semiárido.
Ao chegar a sua propriedade, logo se constata o seu diferencial. Nos fundos da casa, Valmir cria ovinos, caprinos, suínos e galinha caipira. Tudo é devidamente separado, fazendo assim, com que as diferentes espécies, mesmo próximas não se misturem.
Ele nos conta que vende os ovinos e caprinos para abate, as galinhas são usadas na produção de ovos para serem comercializados na cidade e os suínos são criados para reprodução a fim de vender os filhotes para outros produtores. Valmir tem um casal de porcos muito conhecidos na região e seus filhotes são muito desejados por outros produtores. “O grande segredo dos meus animais é a alimentação balanceada e manter os locais sempre limpos, pois assim os animais permanecem sempre saudáveis e não passam doenças uns para os outros” diz Valmir.
Ao dar uma volta na propriedade pode se observar uma grande quantidade de árvores nativas preservadas, pois Valmir também é um alto defensor da preservação ambiental. Mas ele nos conta que nem sempre tudo foi assim. Há 10 anos, quando chegou à região, era tudo desmatado. “Fui plantando no quintal a jurema, o sabiá e a catingueira para garantir no futuro, sombra aos animais”.
Ele também nunca deixa faltar a palma forrageira, pois além de uma ótima fonte alternativa de alimento, ela é extremamente adaptada ao nosso Semiárido se mantendo viva e produtiva no período mais seco, garantindo alimento saudável e diferenciado para os animais.
No fundo do quintal ele já tem garantida a silagem da ultima plantação de sorgo, assim, quando a estiagem chegar e o alimento ficar mais escasso ou até mesmo não mais existir, a silagem é implantada na alimentação dos animais garantindo nutrientes suficientes para a sobrevivência da criação.
Próximo à propriedade, Valmir fez uma barragem para segurar a água por onde passa o rio Trussú, pois quando chegava entre o mês de setembro e outubro, o nível do rio baixava e ele ficava sem água para alimentar os animais. ”Tenho sempre o cuidado em preservar as árvores nativas da beira do rio, preservo o Mufungo, o Pau Branco, o Sabonete e a Ingazeira sempre por perto, pois se não preservar elas acabam e depois demoram muitos anos para conseguir implantá-las novamente na mata” diz com orgulho Valmir, embaixo de um Muquem de aproximadamente 70 metros.
Valmir conta que o problema que ele sempre enfrentou foi a pouca água existente na região e que tudo sempre teve que ser muito regrado. Ele e outros produtores e moradores da comunidade já são beneficiados com as cisternas do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) destinadas para o consumo das famílias e com capacidade de armazenar até 16 mil litros de água da chuva, mas sonham em um dia conseguirem o benefício de um projeto que os possibilitem armazenar água para produção e para a criação de pequenos animais.