Em quase todo o sertão nordestino ainda podemos notar principalmente em regiões mais isoladas, a preservação da cultura dos povos mais antigos. E na comunidade Areia dos Guedes a 17 quilômetros de Acopiara - CE não podia ser diferente.
A comunidade ainda cultiva a mandioca para fazer a farinha nos moinhos manuais e na época da colheita todos se mobilizam no chamado tempo da farinhada, chegando a durar semanas, todo aquele processo de colher, descascar, triturar e torrar a mandioca para fazer a farinha e a goma. “É uma grande festa ver todo aquele povo unido e acordando a velha e quase centenária casa de farinha da comunidade”, diz um morador da região.
Chegando ao local a sensação é de voltarmos no tempo e de vivenciar algo que só conhecíamos nos livros da história do Brasil. É algo lindo pertence aquela cultura.
Porém como a produção da mandioca não é anual, muitos agricultores precisam realizar outras atividades para suprir as necessidades de suas famílias nos meses onde a farinhada não ocorre e Arlete é uma delas. Conta ela , que 30 anos atrás, sua mãe, Dona Maria Salete, percebeu que na comunidade existia uma vasta quantidade de carnaubeiras tendo ela, a idéia de começar a confeccionar a conhecida vassoura da palha de carnaúba, para aproveitar aquela Matéria prima que até então, não tinha nenhuma serventia para aquele povo.
Ela conta que sua mãe fabricava as vassouras até pouco tempo atrás, mas devido ao cansaço, foi diminuindo a produção até encerrar definitivamente a confecção das tão famosas vassouras. Assim, para manter a cultura de sua família e ainda acrescentar uma renda extra em sua casa, Artele resolveu continuar a produção das vassouras.
E como já esperado, os clientes continuaram Fiéis. Arlete vende as vassouras nos distritos vizinhos para pequenos mercadinhos e tira uma renda extra que já tem destino certo para o sustento da família.
O processo de fabricação é todo manual. Arlete acorda cedo para cortar as palhas e essa primeira etapa torna-se um processo muito perigoso, pois como a palha da carnaúba é bem alta, é preciso um gancho de ferro fixado em uma longa vara para poder puxá-la e quando a palha é cortada com esse gancho, ela desce pontiaguda e com muita velocidade, podendo atingir a pessoa que está embaixo realizando o serviço. Alguns casos de pessoas que se feriram gravemente já foram registrados na região.
Arlete lembra que para manter a espécie é preciso deixar sempre as palhas do centro da carnaubeira, para que ela venha a brotar novamente e meses depois possam ser reutilizadas e colhidas.
Após o corte, os espinhos são retirados ali mesmo no local e as palhas são levadas para a residência onde vão passar por um processo de secagem para só então começar a etapa artesanal da confecção das vassouras.
Cada vassoura leva no máximo cinco minutos para ser produzida sendo vendia a R$ 1,50 a unidade. Em quantidades acima de cinqüenta unidades o valor diminui para R$ 1,00 a unidade.
Arlete também cultiva algumas verduras em seu quintal. Ela utiliza o sistema de canteiros suspensos e produz alface, cebolinha, coentro e pimentão. Na propriedade também encontramos uma pequena área com feijão e mandioca. Tudo para o próprio consumo da família.
Arlete conta que não produz uma quantidade maior pelo simples fato de não possuir água suficiente para a produção, mas como ela e muitos de sua comunidade acabam de ser beneficiados esse ano de 2013 no Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) a expectativa de dias melhores tomou conta daquele povo. Todos estão muito ansiosos com a chegada do projeto e já fazem planos para o próximo ano. “Vou plantar feijão até onde não der mais, também vou fazer um monte de canteiros e vou plantar minhas verduras”, diz Nilson , irmão de Arlete.
Canteiros suspensos
Arlete retirando as palhas da carnaúba
Vassouras prontas para serem comercializadas